segunda-feira, 23 de julho de 2007

O baú da minha avó


Fui ao baú da minha avó encontrar as roupas que enchem as recordações da minha infância. Por convite da Saloia e sugestão da Rosa, resolvi voltar a esses tempos.

Na então aldeia onde vivo (que agora é Vila e nem sei bem porquê), fazem-se, no início de cada ano, as romarias ao Menino Jesus, onde toda a freguesia se agrupa por lugares, organizando uma dança e reunindo oferendas para levar em cortejo até à Igreja Matriz, para aí beijar o Menino Jesus e depois leiloar todos os produtos numa sessão que se prolongava normalmente pela noite dentro.
A competição era imensa (agora nem tanto), o que tinha sempre o excelente resultado de se juntar ainda mais fundos para as obras paroquiais.
Vendiam-se produtos da terra, vinho, roupas, "monos" que já ninguém queria, mas sobretudo "prendas", que era o nome dado aos tabuleiros de refeições completas preparadas pela dona da casa, que depois ia ao salão paroquial comprá-las, para comer em casa com toda a família.

Sempre um bocado teatral, desde cedo me envolvi nestas coisas, mas nem tinha grande hipótese de escapar.


O meu pai, desde que me lembro, foi o leiloeiro. A quantidade de galinhas, cebolas, feijão, ovos e batatas que iam parar lá a casa era incomportável. Uma vez até comprou uma cabra e quem o mandou pastar a ele foi a minha mãe, coitada! Isto para não falar de uma cama ou até roupa que eu não sei a quem é que ele julgava que ia servir!!!

A minha avó paterna era a distribuidora das roupas tradicionais usadas pelos dançarinos que desfilavam nas ditas romarias. Empreendedora, como sempre foi, comprou, alugou e confeccionou roupas de todos os tamanhos e sobre todos os temas (pescadores, lavradores, padeiros e tantos outros) que alugava anualmente a preços simbólicos, registando os destinos minuciosamente no "livro". Não lhe escapava nada e até para rentabilizar o negócio, dividia lenços de vianense a meio (que crime) que assim já dariam para duas cabeças.

Desde pequena que a ouvia dizer "Se me tivessem deixado estudar eu daria uma grande Advogada".
O feitiço caiu-me em cima e eu não achei grande piada!!!

A minha avó, que sempre foi muito vaidosa, e com razões para o ser, desfilava no centro do alinhamento de dançarinos, vestida com a roupa mais rica e com o lindo "chapéu de alamares" (que irei fotografar assim que o encontrar), levando à cinta o saco para recolher o dinheiro no peditório que era feito a caminho da Igreja.

Toda a família era convocada para dançar, representar (em cima de um camião) ou a tocar acordeão (esta era a parte do meu irmão), lá íamos nós "puxar" pelo nosso lugar, numa alegria que contagiava quem nos via passar.


3 comentários:

Celia disse...

Engraçado como vejo o retrato dos teus filhos nas tuas imagens.
O teu irmão igualzinho ao que é hoje...

APO (Bem-Trapilho) disse...

É sempre bom recordar os bons velhos tempos. E como gostávamos das festas quando éramos crianças. Hoje as tradições já não são o que eram. Mas também adoro recordar. Qualquer dia tb tenho k vasculhar as fotos antigas para ver o que encontro.
bjinhos
E a propósito, fotos lindas!

G_ticopei disse...

Que boas recordações... Deves ter muitas saudades desses tempos não?
Beijinhos