Nestas férias de Verão terminei, finalmente, uma manta para a cama do João.
Há mais de um ano, ele pediu-me para fazer uma manta para ele. Escolheu o modelo neste livro e as cores ao seu gosto, retiradas dos intensos sólidos das prateleiras da loja.
Animada pelo entusiasmo dele, logo de seguida cortei os moldes e depois os tecidos e planeie o trabalho.
No entanto, o ritmo dos dias trocou-me os planos e este trabalho juntou-se a tantos outros que acumulam pó nos sacos e caixas do quarto de costura.
Dia após dia, olhava para os tecidos prontos a coser sem tempo para lhes pegar e finalmente dar corpo àquele monte de tiras. O João perguntava-me insistentemente pela manta, com pena por não a ver crescer.
Com a consciência no chão, adiava o trabalho por isto e por aquilo, pelos presente de Natal e de aniversário e pelos milhões de coisas que se atravessam para fazer todos os dias.
Quando finalmente fiz o topo da manta, coloquei-a na cama para experimentar e reparei que era demasiado larga e curta para a cama dele.
Fiz, desfiz e refiz e voltou a ter forma, quase pronta para acolchoar.
Fiz, desfiz e refiz e voltou a ter forma, quase pronta para acolchoar.
Mas foi preciso o rapaz sair de casa para um acampamento de muitos dias, para me dar o empurrão que precisava.
Enquanto pensava nele e na fantástica experiência que estava a viver, cosia as saudades com linha de algodão na manta que ele tanto desejava.
Enquanto pensava nele e na fantástica experiência que estava a viver, cosia as saudades com linha de algodão na manta que ele tanto desejava.
E aí, as horas rendiam e sobravam pela noite dentro, com o coração retalhado de uma mãe mimalha, que empurra os filhos para o mundo, a esconder uma lágrima no olho.
Ele regressou de lá novo, feliz, crescido e com uma manta nova para o cobrir nas noites de Verão.
Se calhar nada acontece por acaso e esta manta podia bem chamar-se "saudade"...