quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Quem me quer bem!



Quem me quer bem ofereceu-me estas flores, sem data marcada nem comemoração a lembrar.
Quem me quer bem surpreende-me assim e sabe que me faz feliz.
Quem me quer bem respeita o meu tempo, dá-me espaço e chega-se a mim quando também lhe quero bem.
Quem me quer bem ouve mais do que fala e acalma a fúria do meu viver.
Quem me quer bem cresceu comigo, fez-me crescer e, lado a lado, geramos novas vidas.
Quem me quer bem quer-me muito, tanto quanto eu lhe quero!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Conversas....

...no carro.
-Eh mãe, tu fizeste uma curva!!!- admira-se o G.
- Não foi a mãe que fez a curva, a curva já estava feita!!!- Diz a L., com a "mania".
- Não foi nada, foi a mãe.
- Não foi!
- Não...

- Chega!!! - diz a mãe.

...no banho.

- Esta semana vamos trabalhar o tempo todo. - informa o G.
- Ah sim, então porquê? - como se eu não soubesse.
- Porque estamos de castigo. Só a N., a A.e a B. é que vão brincar.

Mete-se a L.:


- E tu o que é que fizeste?
- Não fiz nada.
- Não fizeste nenhuma asneira?!
- Eu não, fizemos todos!...menos a N., a A. e a B....

A L. ainda sem perceber...


- Se tu não fizeste nenhuma asneira, a mãe tem que falar com a Ana (a educadora) porque isso não é justo.
- Não mãe, não fales!!! - já estava aflito.

Eu não abria a boca, mas a L. dava-lhe forte:


- Mas TU fizeste alguma asneira?
- Eu não. Nós é que estragamos os livros da Ana, só os que estavam na prateleira de baixo, os de cima não (certamente porque nem chegavam lá...)
- Então!!! (parece que se convenceu a mandona)
- Mas não fui eu, fomos NÓS!



Uma questão de identidade fundamental no que toca à consciência do pequeno.
O peso do castigo é muito mais leve quando a responsabilidade é solidária.

Sabe muito e ainda não sabe Direito. Imagine-se se fosse Advogado...!

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ai que frio!!!


Depois da colecção Primavera-Verão, tivemos que vestir a Clara para o Inverno.
Desta vez brinquei sozinha, porque já não eram horas para a L. estar acordada, mas ela gostou do resultado. Não sem antes encomendar um guarda roupa completo para a Clara e para a Maria, que, pobrezinha, ainda só tem um vestidinho de Verão. O que lhe vale é a amiga, que lhe empresta o poncho de vez em quando.
Antes de se deitar ainda me disse:
- É mesmo fixe tu saberes costurar, mãe, porque assim posso ter muitas roupinhas para as minhas bonecas sem gastar dinheiro.
Pronto, já me comprou!
A L. também ganhou uma camisola nova, mesmo da cor dos seus olhos, que a mãe vestiu durante uns tempos mas que, em resultado de uma operação especial de feltragem na máquina de lavar (não importa nada que tenha sido acidental) ficou exactamente do tamanho da L. (de propósito não ficava tão bem.. :D)
E assenta-lhe que nem uma "luva"!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

novidades


Perdem-se com novidades.
Não devem ser só os meus filhos. Penso que todas as crianças (para nem falar dos adultos) se encantam quando recebem uma coisa nova e durante uns dias não lhe dão descanso.
Quando comprava algo para um, costumava ter a preocupação de comprar também para os outros, para que não ficassem tristes ou só para não aguentar mais uma birra. Mas, à medida que vêm crescendo, os seus gostos e as suas necessidades têm variado tanto que já me deixei disso e só compro aquilo que cada um precisa e quando precisa.
Ontem foi a vez do G., que não herdou os guarda-chuvas dos irmãos, que nem passam de um Inverno para o outro, e comprei um só para ele, do "oraanha" e uma meias anti derrapantes para as aulas de ginástica (que as da L. já estavam gastas). Ficou feliz a criança e andou a chamar a chuva pela casa toda...sem escorregar...
Para marcar o momento pediu-me para lhe tirar uma fotografia com os presentes que recebeu. E aqui estão eles: os gatos das meias e o homem aranha da chuva.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Bordados e Rendas nos Bragais de Entre Douro e Minho

Recebi um livro novo, uma edição esgotada de 1994, do Programa de Artes e Ofícios Tradicionais, intitulada Bordados e Rendas nos Bragais de Entre Douro e Minho.

Este achado não foi fruto do acaso, mas o resultado de uma consulta prévia a um grande alfarrabista do Porto, a quem foi pedido "tudo o que tiver pr'aí guardado sobre bordados".


É assim que o meu pai tem encontrado os livros que vão enriquecendo a minha biblioteca, numa busca insaciável de novas raridades.


Este livro tem ainda um sabor especial, porque foi recebido em troca de outros livros, escritos pelo meu pai, no seu trabalho de investigação histórica, que o vem preenchendo há mais de duas décadas e que assegura o registo fiel das tradições e costumes dos lugares que estuda.

Como me disse ele, "este livro chegou a ti pelas páginas que escrevi..."



Além de uma vastíssima informação sobre as tradições artísticas desta região do país, esta obra é enriquecida com excelentes imagens (que eu não fui capaz de reproduzir condignamente) que enchem os olhos a qualquer apreciador destas artes.


Parei na página das rendas de bilros, onde figura o pano do sol, uma renda executada pela Maria da Guia, uma talentosa rendilheira do Museu das Rendas de Vila do Conde, das mais importantes mestres dessa arte, em cujo mister se iniciou com apenas 4 anos de idade.


Com ela eu tive a honra de aprender a trabalhar com os bilros e fazer as minhas primeiras rendas.






"Bordados e Rendas nos Bragais de Entre Douro e Minho abrem os olhos ávidos de ver os segredos escondidos em arcas e cómodas de guardar enxovais, tesoiros para noivar e transmitir, objectos que se possuem e quase nunca se usam. Ficam sempre para filha ou neta, como a fotografia desbotada, sépia, nítida de uma parente de quem mal se lembra o nome, mas se tem orgulho em mostrar, ascendência que testemunha a raiz de uma família. Contudo, a mais das vezes, o gesto miúdo, o aperfeiçoar do ponto pertenceram a gente que vivia da jorna, ganhava de comer e era paga pelo gosto de fazer o que fazia. Legaram-nos, com excepção de um ou de outro caso, patrimónios sem assinatura, monumentos construídos de arquitecto desconhecido, porque os gestos eram saber daquelas terras e a sensibilidade tinha a sua satisfação no criar do maravilhoso que ainda agora nos encanta ao olhar estes objectos."




Eu já estou encantada, e profundamente agradecida, por os poder admirar em livro.

Já está!

Concluídas as candidaturas, as contempladas são a Mónica, a Paula e a Célia.
Agora ... pay it forward...
E agora com licença que tenho que ir trabalhar!

domingo, 18 de novembro de 2007

Pay it forward



Deixei um comentário desanimado aqui por ter chegado tarde na cadeia Pay it forward.


Mas afinal não, fui admitida à 2ª volta e vou ser uma das felizes contempladas com um presente da Luísa.
Nos próximos 6 meses, é certo, mas mal posso esperar por ter nas minhas mãos uma das suas preciosidades.


Para não romper o ciclo, e como o espírito da iniciativa pretende, vou eu também enviar um presente surpresa, às 3 primeiras pessoas que deixarem um comentário neste post e que tenham um blog, para que depois também o façam no seu. O prazo é de seis meses e já está a contar...


A contar também está o número de livros que tem recheado a minha biblioteca de crafts.
Pelas mesmas mãos, mas desta vez sob o olhar técnico da minha mãe.


Estes vieram de Roma, onde eu gostava de ter voltado...




e estes foram resgatados na Feira do Livro do Museu Soares dos Reis, no Porto...


Tenho muito onde me inspirar!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

na cama da mãe

Desde que sou mãe que são raras as noites em que não me aparece uma visita nocturna, ou duas, ou ... três na cama.

Seja à hora a que for, não me vale de nada oferecer resistência e tentar levá-los de volta para a sua cama, porque eles vêm para ficar, de preferência ao meio e todos do mesmo meio.


Eu li os livros (quase) todos sobre o assunto, sei que não se deve promover nem mesmo conformar com a invasão dos filhos na cama dos pais, que cada um tem o seu espaço e eu concordo com isso tudo...mas às 4 h da manhã também concordo que preciso de continuar a dormir porque dali a nada tenho que me levantar.


Enquanto era só o J., facilitávamos muito mais e qualquer gemido do menino dava direito a ninho dos pais.


Com a L., a coisa complicou-se mais um bocadinho, mas arranjava-se sempre espaço para os dois, senão ao J. cresciam os ciúmes.


Quando o G. nasceu é que o caldo se entornou, sobretudo durante o 1º mês em que ele ficou no nosso quarto, porque amanhecíamos 5 na mesma cama.

Isto do amanhecer é uma força de expressão, porque depois de ser arremessada por mais 3 na mesma cama, eu já não pregava olho.

Muitos eram as noites em que eu e o pai fazíamos a transfega para a cama de um deles e deixávamos a nossa cama entregue ... à criançada.


Por essa razão, o passaporte do G. para ir para o quarto do irmão chegou ao 1º mês de vida e foi a melhor coisa que fizemos. Não que isso tivesse eliminado as visitas durante a noite, mas reduziu-as substancialmente, porque os outros sabiam que já não estava ali um hóspede fixo.


Eu só estou a pagar por aquilo que fiz, bem sei, porque muitas vezes invadi a cama da minha mãe, que, por alguma razão, era especial.

Durante os anos em que o meu pai andou a servir a nação, eu e a minha irmã escalávamos a vez de cada uma de nós dormir na cama da minha mãe, e posso dizer que as negociações não era fáceis. O que vale é que o meu irmão, que não era tão mimalho quanto eu, nem se metia no assunto, senão era mais um candidato ao lugar.

Lembro-me que, quando já era mais crescida (outra força de expressão, porque eu não cheguei a crescer...), e já parecia mal despachar o meu pai para Lisboa para poder dormir com a minha mãe, agarrava-me ao seu pescoço, quando me vinha dar um beijo de boa noite e puxava-a para a minha cama, onde ela me mimava um bom bocado.


Enfim, sempre pensei que esta tendência para gostar da cama da mãe era uma coisa de mimo, de afecto, de aconchego...mas não, também tem uma explicação científica, que me foi revelada pelo G. quando há dias se enfiou no meio da nossa cama:


- Aqui está mais quentinho!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

com a Brigada de Trânsito no banco de trás

É assim que eu ando, todos os dias, com 3 agentes da Brigada de Trânsito sentados no banco de trás do meu carro, disfarçados de filhos.
A L. manda-me andar devagar quando entramos na auto estrada.

- Eh lá mãe, estás a andar tão de força!!!

Atrapalha-se quando ultrapasso um carro.

- Deixa lá o carro ir à frente...

E faz questão de me avisar ao segundo quando o semáforo muda para verde.

- Já estáááá!!!

Ao J. agora deu-lhe para me repreender quando estou a fazer crochet ou tricot nas filas de trânsito.

- Achas que isto é sítio para fazer isso?!
- O quê?-pergunto entretida.
- Isso dos fios e das agulhas...

Não satisfeito quando lhe digo que estou atenta aos carros e não faria nada que pusesse em causa a nossa segurança...

-Estás atenta, estás, olha o carro da frente a avançar?!!!

Não me dá tréguas, este menino!
Crochet ou tricot, só depois de os deixar na escola e antes de os ir buscar.
Hoje foi a vez do G., quando parei atrás de um camião de limpeza e aproveitei para espreitar de onde vinha a mensagem que apitou no telemóvel.

- Ó mããããee, não está verde!!!

Ainda por cima enganou-se nas cores....
Quando tiver que parar numa operação stop, apresento-os aos colegas e garanto que já fui fiscalizada.
Uma mãe assim acanha-se!!!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

está a render...


Depois de acabar este, a minha patroa do meio fez-me uma encomenda.

A L. gostou tanto do meu, que quis um poncho igual, mas noutras cores, de preferência vários ponchos, de várias cores ... porque não se conseguia decidir pela cor que mais gostava.

Percebi que ela não estava para esperar duas semanas de semáforos para o vestir, então decidi-me a fazê-lo no sábado à noite, na raríssima oportunidade que tive de ver um filme (ehehehehehe).

Ficou quase, quase pronto, mas a patroa era exigente e tive que o acabar no almoço de Domingo, para ela o poder levar à festa de anos de uma amiga, onde ele certamente lhe iria fazer muita falta...

Acabei-o por ela e por mim.
Fico feliz por vê-la tão animada, a rodar os fios de lã, e fiquei feliz por mim por ter acabado mais uma coisa (estou a ficar mesmo crescidinha!!!)

No Domingo, saiu de casa toda animada, não sem antes me dizer:

- Agora podes fazer o azul! E faz outro para a Mariana (a professora de ballet) porque ela hoje também faz anos.
- Mas a Mariana é muito alta filha, demora muito tempo...
- Só tens que o fazer para 2ª feira, quando eu for ao ballet.
(que por acaso era o dia seguinte)
Como era de se esperar, nem o comecei, porque a professora é mesmo grande e estou a negociar outro acessório. Além disso, só estou mesmo motivada para vestir a minha "patroa".

Já o veste há 2 dias e anda toda feliz!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

estranhamente educados...

...ou apenas cumpridores dos seus deveres.
Não sei.
Os condutores quando não são empatas, são normalmente apressados, aflitos, intrometidos e demasiadas vezes agressivos para as distracções de uns (oops), as aselhices de outros e para os azares de alguns.
Hoje fiquei parada atrás de um carro que avariou na subida de uma rua de via e sentido único. Parou, estrebuchou e não mais se mexeu. O condutor esforçou-se imenso, ainda saiu do carro tentando-se desculpar pelo que estava a acontecer, mas nada conseguia fazer porque o seu carro fez mesmo greve. Voltou a entrar, ia dando à ignição mas o carro apenas soluçava.
Atrás de mim estava mais de uma dezena de carros e, para meu espanto, e satisfação, ninguém buzinou, mas também ninguém se mexia. Como tinha mesmo que ir trabalhar, sai do carro e do alto do meu metro e meio ofereci-me para empurrar o carro para uma zona que permitisse a passagem dos outros, não sem antes apelar ao condutor do carro de trás, que era moço jovem e mostrava ter força nos braços.
Passados uns segundos já éramos uns quantos, uns de fato, outros de tacões e aqui a menina de sapatos de verniz, a dar ao carro aquilo que ele não tinha.
O dono ficou mais tranquilo, embora o seu almoço ainda fosse demorar bastante a chegar, e nós podemos ir todos à nossa vida.
Fiquei contente, afinal nós, os condutores, os portugueses, não somo assim tão arruaceiros no que toca a andar na estrada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

makeover


Um dia uma amiga disse-me que aquilo que podemos mudar em nós é apenas o cabelo. O resto temos que aceitar, gostando ou não.


Sabemos hoje que não é tanto assim, que se pode mudar a cor dos olhos, o formato do nariz, do queixo ou de qualquer outra parte do corpo, tentando melhorar aquilo que nos parece feio.


Eu continuo a concordar com a minha amiga e acho que as melhores mudanças são as do cabelo e sempre abusei do argumento.


Casei com um cabelo imenso, sem precisar de postiços para o penteado, mas antes de viajar em lua de mel, cortei-o ao nível do pescoço, para arejar no calor do Brasil.


Depois de os meninos nascerem, fui perdendo a farta "juba" que tinha (já herdada pela L.) e cheguei a fazer um levantamento de raiz (o nome horroroso que dão quando nos põem o cabelo com aspecto electrificado). Arrependi-me amargamente e lamentei não me ter dado uma dor de barriga valente antes de entrar no cabeleireiro.


De há uns anos para cá, centímetro acima, centímetro abaixo, não tenho alterado o meu penteado, sem que me tivesse apercebido realmente dessa apatia visual.


Fui assim apanhada de surpresa, pela minha cabeleireira de sempre, quando, depois de dar um ajuste ao corte do J. (que já está na fase de querer o cabelo comprido, para "impressionar as miúdas"), me disse:


- Senta-te aí e vamos dar um jeito a essa cabeça. Já estou farta de te ver sempre igual!

Eram 19.30h, tinha dois filhos comigo, o jantar por fazer e uma festa de aniversário a seguir, mas sentei-me. Confiei nas mãos dela, que faz milagres com a tesoura e num salão vazio, que não permitia desculpas para escapar.


Fiz bem, o resultado renovou-me por fora e por dentro.


Como é que um corte de cabelo pode ter este efeito?!!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

já se percebe...


As suas vontades, os seus apetites, os seus desejos e até os seus gostos gastronómicos já se percebem há muito tempo.
É verdade, custou a aceitar, mas já não faço resistência quando me pede que o abasteça substancialmente de enchidos (os mais escuros possível), feijão preto e milho doce, a que é incapaz de resistir. Ontem até me pediu "aquela coisa boa que os avós compraram que se pega com a mão e eu não me lembro do nome...", também chamadas, costelas de porco na brasa.
Agora também já se percebem os seus desenhos, que deixaram de ser as rodinhas rabiscadas, amontoadas num minúsculo pedaço de papel. As pessoas ganharam forma pelas suas mãos num quadro de desenho muito disputado entre os irmãos, sem tronco, é certo, mas isso também não tem importância nenhuma.

Hoje foi uma manhã "daquelas", em que tive que cumprir um castigo de que há algum tempo o vinha a avisar. Depois de me deixar com o coração desfeito ao lembrar a cara triste com que ficou na escola, levando na mão o leite que se recusou a beber em casa, tinha que lhe dar este mimo ... e mais logo dou-lhe outros mimos.

Tão "bandido", tão lindo e tão meu!!!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

made in na ponta d'agulha



Esta é a primeira peça produzida pela nossa loja, na ponta d'agulha, que foi feita por mim para oferecer à minha irmã, como presente de aniversário.


O cachecol foi executado em pouco tempo, mas a horas que não se podem revelar.


Ela merece-o bem e o resto são desvios...


Parabéns maninha! E vê lá se vem daí o frio para fazeres publicidade à casa!!!

domingo, 4 de novembro de 2007

... em trânsito ...


Consegui acabar um poncho mesmo a tempo do frio do Inverno, com material já comprado para o Inverno do ano que passou.
Comecei e acabei no espaço de duas semanas, o que para mim é um bom tempo.
Mas só consegui dar-lhe o devido aviamento por aproveitar todo o tempo que tenho ... que é muito pouco.
Ao serão, que é quando tenho mais prazer em dedicar-me a estas lides, tenho cada vez menos oportunidades, porque só "desacelero" lá para a primeira hora do dia seguinte, que é a mais indicada para dar descanso ao corpo. Antes do jantar, então, é impensável (pensando bem, em muitos dias, o próprio jantar seria impensável, mas aí não há folgas nem take away).
Resta-me então o tempo passado nas horas de ponta e quando acompanho os meninos às actividades e às consultas.
Sim, eu faço a maior parte dos meus trabalhos de crochet ou de tricot em frente ao vermelho ou à espera de ordem do polícia na fila gerada à volta das obras do metro. Este poncho andou no meu colo todo o percurso e um vestido da L. também foi feito a olhar para os semáforos. É evidente que isto não dispensa umas buzinadelas, que eu considero amáveis chamadas de atenção para o sinal que já mudou...há que tempos.
Confesso que às vezes anseio pelo vermelho para acabar uma carreira ou rematar um ponto...
E nem vale a pena às autoridades aventurarem-se a me repreender, porque fazer crochet ou tricot nas filas de trânsito não está tipificado como infracção ao Código da Estrada, pelo que não poderá estar sujeito a punição (embora há quem defenda que não...blá, blá, blá...reminiscências da Faculdades de Direito). Por isso, até "multa" em contrário, assim vou continuar.
E valem-me também as horas que passo à espera na piscina, na música, no ballet (este ano escapei) ou na clínica médica, durante as longas consultas de terapia.
Não vejo mais ninguém nestas figurinhas, mas isso também não me incomoda nada. Um chama-me a "menina da renda", outra diz que pareço uma "avó", eu respondo que pareço é uma "neta", que o tricot está na moda e que não faz mal nenhum saber um pouco de tudo.
Há uns tempos, no Pediatra entregaram-me uma agulha, que foi encontrada no chão e pensaram que certamente seria minha, "porque é a única pessoa que faz bordados aqui...". Se não for a única, a minha fama já me traz vantagens.
Lamento apenas não ser conduzida até ao meu trabalho, porque em vez de duas semanas, fazia o poncho numa só, e a L. já me cobra pelo dela.
Por isso, quem vir uma maluquinha parada no verde a olhar para o regaço ou um carro a circular à noite com a luz de presença ligada, é porque eu ando lá por dentro. Não vale buzinar!!!