Dos 3, a L. é definitivamente a mais calma, mais organizada e mais responsável.
As orientações que recebe cumpre-as sem desvios, desde que as entenda muito bem (mas muito bem mesmo) e até ajuda a convencer os irmãos quando estes oferecem mais resistência:
- Tem que ser! É melhor fazer como os pais dizem! Não custa nada!
E outras pérolas que regalam aos ouvidos.
Tem um sentido de justiça impressionante, não admitindo repreensão quando está convencida que tem razão ( e normalmente tem razão).
Mas quando se passa...aquela menina quando se passa realmente daquela cabeça...não há quem a segure.
Há dias levou-nos às lágrimas, de nervos e de riso, com uma das suas cenas que eu não resisto a contar.
Frustrada porque o pai desligou a consola de jogos, que já estava a dar baba e ranho entre irmãos, deu um valente chuto na almofada que estava no chão.
O pai pediu para ela a apanhar e ela recusou-se determinantemente a fazê-lo porque não foi ela que a deitou ao chão e que não era empregada da casa.
O pai insistiu dizendo que apesar de não a ter atirado para o chão, quem a chuta também a pode arrumar.
Do alto dos seus 7 anos afirmou que não apanhava e nem valia a pena insistir porque ela não estava ali para servir ninguém:
- Quem a deitou ao chão que a apanhe!
Segue-se birra, choro e quarto para acalmar, já carregada escadas acima no colo do pai.
Faz ainda mais birra, chora ainda mais alto e dá murros na porta para descarregar a fúria.
Aconselho-a a bater antes no chão para não estragar a porta e a zanga vira-se para o meu lado:
- Vou para casa da minha avó para ela me levar aos meus pais verdadeiros, porque vocês não podem ser meus pais, vocês roubaram-me quando eu era pequenina!
Apertei a barriga, mas não consegui conter o riso. Não melhorei muito a situação.
Consegui trazê-la para a mesa e convencê-la a jantar, não sem antes ela tentar mesmo sair pela porta de casa em direcção à casa dos avós, à procura dos "pais verdadeiros".
Nessa altura eram já os irmãos espantados e ao mesmo tempo aflitos que se apressavam a fechar as portas não fosse a menina sair mesmo (e é que ela saía...)
À mesa disse-lhe que, se ela quisesse, íamos depois de jantar até à esquadra da polícia e perguntávamos aos senhores guardas se sabiam onde estavam os pais verdadeiros da L. e se a podiam levar ao seu encontro. Mas antes, ela tinha que comer a sopa.
- Ai levas-me lá, levas? Então vais ficar presa, porque tu roubaste-me!
Não passaram 5 minutos e ainda cheia de orgulho, diz que quer dizer uma coisa, mas não diz, porque já sabe qual é a resposta.
- Diz lá.
- Quero pedir desculpa, mas como vocês não vão desculpar, não peço!
Pediu, e nós, claro, desculpamos e abraçamos aquela princesinha como se fôssemos os seus pais verdadeiros... ;)